Confira a entrevista concedida por Quaresma e Thiago ao site vivaarteonline, e publicada neste mês.
por Fyb
VA > Qual o momento, álbum ou personagem musical mais marcante? Aquele que fez vocês optarem pela carreira musical?
Quaresma > Comecei a me ligar mais em música no final dos anos noventa, época em que o rock nacional já não tinha a mesma efervecência da década anterior. Não ouvia quase nada de atual. Ouvia Iron Maiden, Legião, essas coisas. O Júnior Caixão já tocava violão nesse tempo e logo comecei a tomar as primeiras lições. Comecei a cantar por brincadeira, mas sem ter como referência nenhum artista em especial. O que me incentivou mesmo foram os festivais. Cantei a canção de um amigo, o Fernando Silva, numa festival em União e ganhamos o terceiro lugar. Foi essa empolgação inical que me levou a continuar na música.
Thiago e > Nós temos referências muito variadas e muito comuns ao mesmo tempo. Gostamos da mistura psico-fônica, sem um único momento, álbum ou personagem musical. O Vazin (guitarrista) dentre outras coisas já tocou em banda de heavy metal, o Wagner (baixista) tocava numa orquestra da UFPI, além disso os dois tocavam MPB e POP ROCK juntos em outras bandas. E o John (baterista) ainda toca na igreja. Comecei tocando samba e ouvindo muita música brega. Sempre pensei em pegar aquilo de vexaminoso e emocionante nas canções.
VA > Quais as principais influências que fizeram vocês se reunirem e começarem a compor?
Quaresma > Acredito que foram os artistas que fazem a nova MPB, como Lenine, Zeca Baleiro, Chico César, etc. É claro que continuávamos ouvindo outros artistas veteranos: Djavan, Zé Ramalho, Alceu Valença, Chico Buarque, e por aí vai. Mas a mistura de estilos era o que me chamava a atenção. Com a mudança pra Teresina eu conheci muita coisa, que até já poderia ter visto em União, mas ainda não tinha me dado conta. O Mangue Beat, por exemplo, já tava além do ápice e eu por fora. Além disso, conheci bandas daqui de Teresina que me agradaram muito pelo que, pra mim, faziam de novidade. Narguilé Hidromecânico foi uma coisa muito boa que conheci e posso dizer que também me influenciou a começar a compor. Sou um compositor já deste século. Minhas primeiras canções são de 2002. Bicho do Mato é uma delas. Acho que a maioria dos músicos da banda partiram dessa mistura de MPB e Pop Rock.
Thiago e > Além da música, acredito que os livros nos movimentam bastante. Quaresma, Wagner e eu, por exemplo, cursamos Letras na UFPI e o Vazin estuda Geografia lá. Muitas vezes lemos algo interessante e a tomamos para início de composição. Tiramos onda e tudo, com termos eruditos, pedantes, simples... Poesia sempre me impressionou muito. Daí uso, junto com o Quaresma, várias vezes, de expressões poéticas nas letras das músicas de modo que fiquem auléticas e citarísticas, bem esquisitas e bonitonas.
VA > Por que resolveram colocar o nome Validuaté na banda?
Quaresma > Primeiro, era necessário mudar o nome da banda. Já tínhamos uma banda chamada Papel di Parede com a qual participamos de Festivais em Teresina e União. Tocávamos basicamente o som que se ouve pelos barzinhos, aquele repertório batido, e de vez em quando uma coisinha nossa. O problema era quando tentávamos fazer um show só com músicas próprias, e as pessoas depois de ouvirem nossas canções pediam: “toca aquela do Djavan! aquela do Zé Ramalho!” Aí decidimos mudar o nome e a proposta da banda. Um nome novo não tem memória alguma, e assim as pessoas não pediram mais o repertório do bar. E Validuaté foi sugestão do antigo baterista, Anderson Kanibal. A princípio, o tomamos pela sonoridade, e logo depois vimos a possibilidade de uma tensão semântica entre as idéias de lugar e tempo. Ouvindo o nome, as pessoas não saberiam se era “vale do até” ou “válido até”, quando na verdade partiu desse último. Eu estava comendo biscoito recheado nos bastidores do Chapadão, o festival da fundação Monsenhor Chaves, quando o Anderson observou a expressão no rótulo e sugeriu como nome pra banda. Escrito da forma que é, Validuaté significa a banda formada por essas seis pessoas que vocês começam a conhecer, e que faz essa música que começa a tocar.
VA > Nota-se claramente nas letras, o jogo de palavras, construções poéticas, etc. Quem escreve? Falem um pouco sobre as letras, temáticas, etc.
VA > Nota-se claramente nas letras, o jogo de palavras, construções poéticas, etc. Quem escreve? Falem um pouco sobre as letras, temáticas, etc.
Thiago e > Pois é. Somos eu e o Quaresma quem escrevemos. Como eu já disse, poemas sempre me impressionaram em demasiado. Na verdade penso como as letras ficariam isoladamente, sem a música. Que impressão alguém pode ter ao simplesmente ler a letra? Proponho que musiquem as letras da banda de outra forma! Quando li Leminski, Arnaldo Antunes, Jorge de Lima, Cláudio Willer, Roberto Piva comecei a tentar escrever poemas também e percebi a força que a palavra poética tem. Mas é preciso ser igualmente simples, ter uma comunicação dinâmica. Por vezes escrevo algo e só depois é musicado por mim e/ou pelo Quaresma. A banda participa mais nos arranjos. Falamos de coisas bem simples que são motivos de composição de qualquer tempo: o céu, a chuva, o mar, as pessoas, o amor, a separação... nos permitindo assustarmo-nos com o que é simples.
Quaresma > No que escrevo, tento explorar minhas impressões do cotidiano, das coisas, do mundo, desde coisas elementares como a terra ser redonda e eu não conceber isso na infância, até o fato de a beleza ser mal distribuída entre as pessoas. O que prevalece mesmo são as cotidianidades. Meu mergulho na poesia é mais raso que o do Thiago. Ele parece que deu uma “tainha” na poesia e eu fico brincando no raso mesmo. Brinco com trocadilhos, ironia, expressões que ouço pela rua e em casa, e assim vai.
VA > O que a banda costuma tocar nos shows, além de música própria?
Quaresma > Já houve um tempo, curtíssimo por sinal, em que tocávamos mais covers. Acho que uns cinco ou seis, que incluíam Arnaldo Antunes, Ultraman, Zeca Baleiro, Lenine, André Abujamra. Desses só a música “O Mundo” do Abujamra sobreviveu, e olhe lá! Na verdade temos a política de tocar essencialmente nossas canções, basicamente para evitar o círculo vicioso de coisas como “toca aquela do fulano” ou então “toca Raul!”. Nada contra. Porém, entendemos que é assim que a banda pode começar a ter autonomia.
VA > O que vocês ouvem hoje em dia?
Quaresma > Eu tenho ouvido cada vez mais coisas. Tenho revisitado artistas mais antigos que serviram de referência a outros mais recentes. ReferÊncias como Chico Buarque, Pixinguinha, Noel Rosa etc. Quase deixei de ouvir música em Inglês. Tenho procurado e encontrado novidades aqui no Brasil mesmo. Pra ser novidade pra mim, basta que eu não conheça, independente de ser atual ou do tempo do bumba. Daí eu estar curtindo hoje cantores como Márcio Greyck e Altemar Dutra. Mas eu me amarro em artistas novos, desses que se pode acompanhar do primeiro CD, como Mombojó, Céu e Los Hermanos, que já não é tão nova assim. Gosto de ficar especulando sobre os processos de criação dessa moçada.
Thiago e > Ultimamente tenho ouvido muito o Márcio Greyck. Vi que já conhecia algumas canções mas não sabia de quem era. No mais, Fernando Mendes(sem essa de versãozinha de Caetano Veloso – prefiro as gravações antigas na voz dele mesmo), Jorge Mautner, Tom Zé, The Smiths e Bob Dylan.
VA > Como se deu o encontro União x Teresina?
Quaresma > Eu e o Júnior Caixão (guitarrista) somos de União, onde a história começou. Vim morar em Teresina em 2001, quanto passei no vestibular. No curso de Letras Inglês conheci o Anderson Kanibal e o convidei para tocarmos no Chapadão em 2002. Dois anos depois entraram o Wagner, o Vazin e o Thiago. O último que entrou foi o John Well, no lugar do Anderson. E assim ficamos de lá pra cá. Ainda mantemos boas relações com União onde já fizemos vários shows. Além disso, muitas músicas foram compostas lá.
VA > A banda já procurou tocar em outros estados, festivais, etc? Ou ainda não é o momento? Se já tocaram, como foi?
Quaresma > Estamos esperando o lançamento do CD para começarmos a viajar e divulgá-lo. Mas fizemos uma viagem muitíssimo interessante, quando participamos da feira Piauí Sampa, que aconteceu em São Paulo, em 2006. Foi a primeira viagem longa da banda, e logo para a maior cidade do país. Serviu para abrir nossos horizontes, e para vermos as possibilidades de expansão da música piauiense. Ah, também tocamos no Maranhão, em Timon.
VA > A Validuaté já tem algumas músicas disponíveis na net e prometem uma demo. O primeiro cd oficial está longe? Quais são os planos para gravações?
Quaresma > Na verdade, a demo já existe há mais de um ano. As músicas que disponibilizamos na internet são uma notícia do CD que já estamos terminando de gravar. Nesse primeiro CD estamos gravando as canções que temos tocado nos shows. As novas canções que fizemos e até já tocamos em alguns shows, devem ser gravadas nos próximos discos. Podemos dizer que o primeiro CD é o resultado da boa relação da banda com seu público. E como estamos bem no meio da gravação, não estamos livres de surpresas. Esperamos que tudo dê certo para lançarmos o CD entre abril e maio, mas de maio não passa, porque é o aniversário da banda. Ops! Será que falei demais?!!.
VA > Deixem uma mensagem para os internautas do site, valeu!
Thiago e > Esse negócio de “deixar uma mensagem” é meio clichêzão, mas tudo bem. Penso que o povo tem que se mexer e se organizar. Tomando cuidado com o conceito de organização. Se mobilizar no sentido do Kaos com K, do Jorge Mautner: o conflito criador. No Piauí há muita gente querendo fazer e fazendo arte. Músicas boas, peças de teatro interessantes , gente dançando, pintando, esculpindo, escrevendo conto, novela, poema... contudo(como sempre houve) há muita vaidade. Ah vaidade! Um universo-umbigo sem graça! Temos mais é que amalgamar as várias formas de expressão de arte, fazendo o emocionante acontecer em mais lugares: bares, praças e ruas. Ah e tentar ser feliz – talvez mude alguma coisa.
Quaresma > Tomemos cuidado com as tranformações do mundo, meu povo! E isso inclui tudo! Todas as ações que realizamos interferem na vida do planeta. Cuidado com o que comemos, lemos, escrevemos, falamos, ouvimos, com a maneira como tratamos as pessoas, os animais, as plantas, as pedras, as águas, o ar, o resto da camada de ozônio, onde jogamos lixo espacial. Daqui a pouco teremos uma camada de lixo espacial no lugar da de ozônio. Não é por que o mundo vai pegar fogo que não podemos mais amar uns aos outros, que podemos desrespeitar todas as regras, que não valha a pena estudar muito, trabalhar muito, tentar ser feliz pra sempre. O que não vale é reclamar do tamanho da ressaca depois de ter bebido tanto. Estamos aqui. Abraços.
9 comentários:
Olá pessoal! Seguinte, eu conheci o trabalho de vocês tem um tempo. Alguns dias atrás encontrei o percussionista e se não estiver enganado o vocalista gravando no 2studio e até bati um papo e talz. O fato é que não sei exatamente o nome de cada um, e além de gostar do trabalho de vocês queria fazer um convite para um show que minha banda pretende organizar em abril. Estamos terminando de gravar um material tbm no 2 estudio e reabrir nossa agenda pra shows. Se pudessem me dar um retorno eu agradeceria. Qualquer coisa add no msn : extralitis@hotmail.com ou envia email: rafaelbarrets@yahoo.com.br
acho q é só isso. Abraço e sucesso pra vocês;
Certa vez, voltava pra casa e vi um cara com uma blusa da Validuaté. Como faço pra adquirir uma? É 'exclusiva'? Agradecida. :)
*Deus, adoro vocês! SucessÃO pra todo mundo.
Belo de um blogue! Viva vós! Vivam toques e vozes! Até chegar o cd, vamos a ler as entrevistas, falar pr@s colegas! Parabéns pela formação variegada e complementante da trupe aí; coisa rara.
atualiza esse bixo
Fala do Show do Caetano!
A M O
T O D O S
V O C Ê S!!!
MAS EM PERTICULAR E ESPECIALMENTE UM CERTO MAGRINHO QUE TOCA COM UMA GUITARRA VERDE.
BJOOOOO.
Vcs estão da toda ein? Não sei mais nem como expressar minha admiração e paixão por vcs!!!!! Torço pra que td as estrelas continuem sendo goteiras do telhado de Deus, iluminando vcs e cobrindo-os de bençãos!!
Como eu gostaria de ouvir vcs tocarem Noel Rosa e Altemar, deve ser um maravilhoso deleite!!!
Até os shows...
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